Cearanthes fuscoviolacea

Cearanthes fuscoviolacea / Imagem: Jonhalley

“Era como uma espécie esquecida e de identidade duvidosa. Em 2015, em um esforço conjunto de pesquisadores da Unicamp e do Movimento Pró-Árvore, uma população isolada da espécie foi encontrada no sub-bosque de um pequeno fragmento de Caatinga, em Viçosa do Ceará, na Ibiapaba. Nos anos seguintes, mais duas pequenas populações foram localizadas, incluindo um registro inédito para o Estado do Piauí”, revela o professor e pesquisador Antonio Campos-Rocha, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), autor principal da pesquisa.

Matéria completa: https://agenciaeconordeste.com.br/pesquisadores-redescobrem-no-ceara-planta-rara-nao-documentada-ha-quase-40-anos/

Dia Nacional da Caatinga

Angico | Foto: Antonio Sérgio

As região da Caatinga no Nordeste brasileiro divide inúmeras características de vegetação, clima e fauna com outras áreas de florestas secas tropicais desde a Argentina até o extremo sul dos Estados Unidos. Cada uma das áreas de florestas secas neotropicais possui suas características peculiares, por conta do isolamento geográfico, e todas elas tem um alto índice de espécies endêmicas, aquelas espécies que só existem ali.

Enquanto ainda tentamos entender melhor o que é a Caatinga, podemos usá-la como uma boa inspiração para nossa vida, nesse momento difícil de reclusão e distanciamento social, imposto pela crise sanitária.

Por Bruno Ary

Confira o artigo: http://agenciaeconordeste.com.br/outro-olhar-para-a-caatinga/

Em parceria com Movimento Pró-Árvore Fórum Clóvis Beviláqua recebe plantio de espécies nativas

“O trabalho é minucioso e os servidores envolvidos fazem estudos em relação às espécies nativas em extinção no Ceará, conhecendo os biomas locais e conseguindo sementes desses gêneros que ameaçam desaparecer. Eles têm o apoio da Diretoria do Fórum, que acompanha de perto as ações e reconhece a importância do resgate do ecossistema que existe ao redor do prédio.”

Matéria completa: https://www.tjce.jus.br/noticias/forum-clovis-bevilaqua-incentiva-plantio-de-especies-nativas-em-parceria-com-movimento-pro-arvore/

Triste sina das árvores de Fortaleza

É sabido que a presença de árvores no meio urbano aporta os mais diversos benefícios para os habitantes da cidade. Em Fortaleza, bastam cinco minutos sob a sombra de uma grande árvore para confirmar o conforto térmico propiciado por essa maravilha da natureza. Todavia, são muitos aqueles que veem a presença da árvore como um estorvo: “ela suja”, “quebra a calçada”, “dá sombra pra desocupado”, “esconde o ladrão”, são alguns dos equívocos proferidos pela população como justificativa para podas radicais ou supressões.

A triste sina das árvores da cidade revela outro inimigo de peso: o poder público e seu habitual descaso. O Plano de Arborização “lançado” em 2014 pela Prefeitura Municipal (uma mera apresentação em PowerPoint) não contempla a regularização e o planejamento das podas no município como um todo. Muitas das árvores adultas lutam pela sobrevivência em berços apertados ou cimentados, repletas de parasitas, num contexto de difícil convivência com os postes de iluminação pública e com o infinito emaranhado da fiação aérea. Sob a égide da Autarquia de Urbanismo e Paisagismo de Fortaleza – URBFOR, empresas terceirizadas e sem a devida capacitação, executam podas drásticas com o objetivo de livrar as redes de cabeamento aéreo e de não ter que retornar tão cedo ao “local do crime”.

A poda drástica, quando realizada sem os devidos cuidados, promove o enfraquecimento do espécime e o expõe a pragas e parasitas. Este tipo de poda, que deveria ser efetuado somente como último recurso na tentativa de recuperação de árvores em condições de saúde precária, vem sendo prática dominante na cidade, colocando em risco a parca cobertura vegetal de que ainda dispomos e deixando as ruas de Fortaleza cada vez mais quentes e desoladoras.

A equação é simples e desigual: podam e cortam – a URBFOR, a ENEL e o cidadão equivocado – e quem defende? Quem planta?

Caminhar por ruas sombreadas é uma realidade possível que depende da mudança de mentalidade do cidadão e do real interesse da gestão pública pela execução de boas políticas ambientais.

Árvore é vida em abundância.

Bilica Léo

Professora do curso de Dança na Universidade Federal do Ceará e integrante do Movimento Pró-Árvore

https://mobile.opovo.com.br/jornal/opiniao/2018/07/triste-sina-das-arvores-de-fortaleza.html

Expedição do Movimento Pró-Árvore

A Ibiapaba ou Serra Grande, localizada no extremo oeste do Ceará, foi o destino da 15ª Expedição do Movimento Pró-Árvore, no mês de setembro de 2017.

Percorremos trechos dos territórios de Guaraciaba do Norte, São Benedito, Tianguá e Viçosa do Ceará onde, apesar da gigantesca alteração dos ecossistemas originais pela ação humana em atividades agropecuárias, pudemos ver fragmentos de cerrado, florestas ombrófilas, cerradão e caatinga. Áreas relictuais que merecem toda a atenção, proteção e pesquisas.

Nas ‘idas ao mato’ coletas de plantas – para estudos taxonômicos e depósito em herbário – frutos, sementes; registros etnobotânicos e produção de material audiovisual. Um grande aprendizado com gosto de quero muito mais.

 

 Fotos: Antonio Sérgio

Primavera de Pacotê #ArquivoMPA

Por Antonio Sérgio Castro e Júlia Manta*

Notícias alvissareiras trazidas pelo vento Aracati. A primavera chegou! Seja nas escarpas das serras, nas dunas litorâneas, na branca floresta, sobre as águas das lagoas e até na sinuosa cartografia de nossa cidade, à paisagem verdejante ou mesmo ressequida aos poucos se inserem sutis pinceladas das mais variadas cores.

É a época da profusão das flores, o órgão das plantas conhecidas como angiospermas destinado a reproduzir, quando a Natureza torna-se mais pujante, encantando pássaros e abelhas que vem atraídos participar desse maravilhoso ciclo da vida. Das miúdas às graúdas pétalas, em raminhos no chão ou nas copas das árvores, seja lembrando os tons fortes de Hélio Rôla ou as sutilezas de Leonilson, são todas de um regozijar cons-tante aos olhos de quem as contempla.

E para quem sofre de um fraco pela vida ao ar livre e se dispõe ao deleite de um passeio na mata ciliar do rio Pacoti, cai logo de amores à primeira vista, paixão assim, fulminante, por uma singela arvorezinha de flores vistosas, como numinosos fanais amarelos, refletidas em nossa janela da alma. É o Pacotê (Cochlospermum vitifolium), também conhecido como algodão-bravo, árvore esbelta de tronco linheiro e casca estriada, prateada, que pode atingir entre 3 e 8 metros de altura. Quando está florido, o Pacotê perde suas folhas serreadas, brilhosas na face superior.

Olhares mais andarilhos podem encontrar o Pacotê não só nos arredores do rio Pacoti, mas também beirando as estradas rumo ao sertão profundo. Na verdade, esta planta ocorre desde o México até o Brasil, aparecendo na Amazônia e no Nordeste.

Manoel de Barros, o poeta das delicadezas e insignificâncias, usa pássaros para encontrar o azul. Mas nessa tela de azul ofuscante que toca nossa Caatinga, usamos os bem-te-vis, beija-flores, canários e também as sementes do Pacotê. Nascidas para alçar voo através da dispersão chamada anemocórica, essas sementes em forma de pequeninos caracóis dispersam-se ao vento, pois são envolvidas por uma tenra fibra branca, confundindo-se com cândidas e vagas nuvens no céu. Seu invólucro, fruto verde aveludado em formato oval, quando seco abre-se e as sementes ganham o vasto mundo. E seguem flutuando pelos vaus celestes, até tocar o “cio da terra, a propícia estação e fecundar o chão”.

Nas histórias contadas à luz da lua, há quem diga que já viu “escapar uma lágrima do olho de quem sonha”, quando alguém dorme com a cabeça pousada num travesseiro feito das fibras brancas do Pacotê. De sua madeira pode se extrair tinta amarela para tingir tecidos. A casca de seu tronco pode ser usada para feridas, asma e problemas nos rins. Já cascas e folhas são empregadas contra pneumonia, problemas na vesícula e inflamação no útero. As folhas e flores caídas são forrageiras.

Sim, é primavera, de Pacotê e suas sementes flutuantes, é tempo de amor e paixão na Natureza, é o tempo das flores.

*Integrantes do Movimento Pró-Árvore

http://www.oestadoce.com.br/cadernos/oev/primavera-de-pacote

 

Árvores nativas para arborização de Fortaleza

As populações humanas no planeta estão cada vez mais concentradas nas cidades, o que gera uma série de problemas, como a redução drástica da cobertura vegetal, o que por sua vez irá ocasionar uma perda significativa de qualidade de vida destas populações. Cidades saudáveis, mais agradáveis de viver dependem de uma boa cobertura vegetal natural e de uma boa arborização, é inconteste. Esta consciência tem se ampliado nos últimos anos e há iniciativas várias de plantio de árvores em muitas cidades do Brasil só que em muitos casos, sem o devido conhecimento técnico, uma vez que, infelizmente com plantas, muitos acham que sabem e fazem de qualquer jeito, desperdiçando recursos, energia e tempo. Um dos principais pontos para o sucesso dos plantios é a seleção criteriosa das espécies, devendo ser previstas uma maior quantidade e diversidade de espécies nativas dos ecossistemas do entorno. O emprego de espécies nativas na arborização e ajardinamento público e privado traz diversas vantagens como contribuir com a conservação da biodiversidade, com a introdução ou apenas manutenção no caso de nativas remanescentes da vegetação original ou ainda as que surgem por propagação espontânea; trazem um embelezamento distinto do “normal”, com texturas, cores e formas diversas, com a “cara do lugar”; efeito educativo, uma vez que muitos são os que só irão conhecer as espécies nativas,  por toda sua vida, se inseridas ou conservadas em ambientes urbanos. Outra vantagem do uso de nativas é a formação de Corredores Ecológicos proporcionando assim o fluxo de genes, animais e plantas entre os remanescentes florestais existentes. Também as nativas, por serem adaptadas ao meio tem mais vigor e são mais resistentes à pragas e doenças, intempéries e condições adversas, o que reduz ademais os custos de manutenção para que forneçam todos os benefícios da vegetação nos meios urbanos de forma durável, como a melhor infiltração de águas, proteção de mananciais, abrigo e alimentação da fauna autóctone, filtro de poluentes e ruídos, amenização de temperaturas, beleza paisagística e conforto psicológico.

O objetivo deste trabalho é apresentar uma Lista de Árvores Nativas do estado do Ceará, com possibilidade de uso na arborização urbana de Fortaleza, separadas apenas pelo porte. É sabido que a maioria dessas espécies não está disponível nos viveiros da região, onde predominam exóticas, contudo esta lista irá por certo, despertar a atenção para as muitas possibilidades em nossa desconhecida flora, para uso em projetos de arborização, incentivando a coleta de propágulos e a produção de mudas, a partir do conhecimento. Necessário haver nas equipes quem conheça essas espécies em campo, de preferência botânicos, para que orientem as coletas e seu melhor emprego e manejo conforme as características e a ecologia das espécies. Se a espécie é heliófila ou umbrófila, caducifólia ou perenifólia, de locais secos ou úmidos, formato da copa, etc.

Gameleira tem raízes muito agressivas, devendo ser plantada longe de edificações e tubulações. Juazeiro apresenta brotações com abundância de espinhos, que devem ser removidas. Araticum-do-brejo é própria de solos encharcáveis, devendo ser plantada em margens de rios e lagoas. Embiratanha perde as folhas na época seca, sendo inadequada onde a intenção seja sombra plena e não é adequada a podas. Limãozinho possui muitos acúleos no tronco devendo ser inserida afastada da circulação.

Também importa dizer que há lacunas nesta área em relação ao comportamento de algumas espécies em meio urbano quanto a raízes, tolerância a podas, necessidade de maior ou menor irrigação, velocidade de crescimento, resistência de galhos, melhores espaçamentos, etc. Estudos e práticas são altamente recomendáveis.

Buscamos uma mudança de paradigma, não é mais possível que só tenhamos gramados, palmeiras e yucas, sem falar das exóticas invasoras, nas cidades do país da megadiversidade.

RELAÇÃO DE ÁRVORES NATIVAS PARA ARBORIZAÇÃO DE FORTALEZA

ESPÉCIES NATIVAS DE PEQUENO PORTE (Até 4m)

Açoita-cavalo (Hirtella ciliata)

Arapiraca (Chloroleucon acacioides)

Angelca (Guettarda platypoda)

Angelim (Dahlstedtia araripensis)

Araticum-do-brejo (Annona glabra)

Catingueira (Cenostigma nordestinum)

Chifre-de-carneiro (Godmania dardanoi)

Coco-babão (Syagrus cearensis)

Freijorge-louro (Cordia glabrata)

Imburana (Commiphora leptophloeos)

João-mole (Guapira laxa)

Jucá (Libidibia ferrea)

Mangaba (Hancornia speciosa)

Milhomens (Leptolobium dasycarpum)

Murta (Eugenia punicifolia)

Pau-branco (Cordia oncocalyx)

Peroba (Tabebuia roseoalba)

Pereiro (Aspidosperma pyrifolium)

Piqui (Caryocar coriaceum)

Pitiá (Aspidosperma ulei)

Pau-violeta (Dalbergia cearensis)

Sabonete (Sapindus saponaria)

Ubaia (Eugenia luschnathiana)

Ubaia-de-cachorro (Eugenia azeda)

ESPÉCIES NATIVAS DE MÉDIO PORTE (4-8m)

Aldrago (Pterocarpus rohrii)

Almescla (Protium heptaphyllum)

Amargoso (Vatairea macrocarpa)

Burra-leiteira (Sapium glandulosum)

Cajueiro (Anacardium occidentale)

Caraúba (Tabebuia aurea)

Caroba (Jacaranda brasiliana)

Catanduba (Pityrocarpa moniliformis)

Coaçu (Coccoloba latifolia)

Cumaru (Amburana cearensis)

Embiratanha (Pseudobombax marginatum)

Freijorge (Cordia trichotoma)

Gonçalo-alves (Astronium fraxinifolium)

Ingaí (Inga laurina)

Ingazeira (Inga vera affinis)

Inharé (Brosimum gaudichaudii)

Ipê-verde (Cybistax antisyphilitica)

Jataí (Apuleia leiocarpa)

Jatobá (Hymenaea courbaril)

Jenipapo (Genipa americana)

Juazeiro (Ziziphus joazeiro)

Limãozinho (Zanthoxylum rhoifolium)

Marfim (Agonandra brasiliensis)

Mulungu (Erythrina velutina)

Murici (Byrsonima sericea)

Mutamba (Guazuma ulmifolia)

Pacotê (Cochlospermum vitifolium)

Paineira-de-dunas (Pachira endecaphylla)

Pajeú (Triplaris gardneriana)

Pau-branco-louro (Cordia glazioviana)

Pau-d’arco-roxo (Handroanthus impetiginosus)

Pau-d’arco-amarelo (Handroanthus chrysotrichus)

Pau-d’arco-amarelo (Handroanthus serratifolius)

Pau-d’arco-sapucaia (Zeyheria tuberculosa)

Pau-jangada (Cordia toqueve)

Pau-sangue (Pterocarpus villosus)

Pitomba (Talisia esculenta)

Praíba (Simarouba versicolor)

Quina-quina (Coutarea hexandra)

Rabujeira (Platymiscium floribundum)

Trapiá (Crateva tapia)

Xixá (Sterculia striata)

ESPÉCIES NATIVAS DE GRANDE PORTE (> 8m)

Angelim (Andira surinamensis)

Angico-branco (Albizia niopoides)

Barriguda (Ceiba glaziovii)

Bordão-de-velho (Samanea tubulosa)

Cajá (Spondias mombin)

Carnaúba (Copernicia prunifera)

Cássia-rosa (Cassia grandis)

Cedro (Cedrela odorata)

Gameleira (Ficus elliotiana)

Oiti (Licania tomentosa)

Oiticica (Microdesmia rigida)

Pau-pombo (Tapirira guianensis)

Macaúba (Acrocomia intumescens)

Madeira-nova (Pterogyne nitens)

Marizeira (Geoffroea spinosa)

Mirindiba (Buchenavia tetraphylla)

Piroá (Basiloxylon brasiliensis)

Sabiá-tiúba (Colubrina glandulosa)

Tarumã (Vitex polygama)

Timbaúba (Enterolobium timbouva)

 

Antonio Sérgio Farias Castro

Eng. Agrônomo e Botânico

 

Movimento Pró-Árvore

Por Flávio Paiva

O Movimento Pró-Árvore

Recebi o convite do fotógrafo Maurício Albano para participar de uma movimentação de cidadania que está em fase de construção em Fortaleza, com o nome de Movimento Pró-Árvore. Foi, como se diz, uma mão na roda. Há um bom tempo que venho inconformado com a situação degradante da cobertura vegetal na cidade. Não pude participar do primeiro encontro de aproximação de interessados, realizado no Instituto Gaia, em 21/09, mas fui com os meus filhos, domingo passado, 11/12, à reunião ocorrida no Passeio Público.

Mobilizações da sociedade civil para ações como essa, que costumo chamar de “cidadania orgânica”, são sempre bem-vindas e cada vez mais necessárias, diante da atual crise da democracia representativa. Estavam lá pessoas da arquitetura, da história, sociologia, educação, direito, artes plásticas, poesia, psicologia, agronomia e botânica, dentre outras dispostas a dar foco no verde. Ao tomar a decisão de colocar a árvore como uma prioridade, o movimento assume que uma arborização adequada é fundamental para a paisagem urbana, sua qualidade ambiental, qualidade de vida, para a saúde pública e equilíbrio social.

A valorização e a proteção das árvores é uma maneira de sentirmos a cidade como a nossa casa, a casa da beleza, da sensação de ar livre, dos lugares acolhedores, com áreas sombreadas e lugar ao sol para todos. É cuidar para que nós, fortalezenses, naturais, adotados ou visitantes, usufruamos mais da cidade vibrante, de agradável convívio e espaços dignamente públicos, como bem-estar de segurança e áreas verdes dotadas de equipamentos desportivos, recreativos, culturais e de lazer.

A criação do Movimento Pró-Árvore sinaliza a existência de uma mudança na perspectiva de direitos civis e políticos de muitas pessoas que estão indignadas e avergonhadas de morarem e viverem em um centro urbano marcado pelo descaso e por toda ordem de descarada especulação. Fortaleza necessita de compensações ambientais amplas e, para isso, é importante que a sociedade faça o que está ao seu alcance e, se possível, procure se articular com parte da iniciativa privada e dos setores públicos que está comprometida efetivamente com a sustentabilidade.

Promover a plantação de mudas, incentivar a melhoria dos jardins de casas, condomínios e locais de trabalho, influenciar a troca de muros por grades, para que os prédios abram mais seu verde para as ruas, aumentar o uso social das praças e parques, estimular as empresas que mantém áreas verdes e colaborar com as instituições realizadoras de programas de ecocidadania são exemplos de iniciativas que podem ser desenvolvidas pelas pessoas com consciência socioambiental, independente de coobrigações oficiais.

O ideal mesmo é que os mandatários públicos entendam esse tipo de ação da sociedade civil, não como ameaça, mas como agregador e legítimo. Assim, o Movimento Pró-Árvore poderá sonhar com sistemas de logradouros públicos com nomes de árvores, com a classificação de nomes e características das árvores em situação de rua, e com ruas e avenidas margiadas de paus d’arco, acácias pingo de ouro e outras espécies botânicas embelezadoras da cidade, a exemplo das carnaúbas copernicanas, que ornamentam a avenida Monsenhor Tabosa.

Há muito que fazer para a melhoria do meio ambiente de Fortaleza e a ampliação de suas áreas verdes. O que dá sentido à cidade enquanto centro urbano é a capacidade de sua gente de se mobilizar para viver bem. Pode ser fazendo a festa de Saci nas praças, organizando expedições de reconhecimento das espécies vegetais do litoral, serra e sertão, ou criando viveiros de plantas da flora cearense. E, depois, compartilhar, divulgar e publicar, como fez o agrônomo Antônio Sérgio Castro, um dos articuladores do Movimento Pró-Árvore, que está lançando um livro com 45 fotos de Flores da Caatinga, pesquisadas e resenhadas por ele.

A compreensão de que a cidade precisa da natureza para ser um bom lugar deveria estar entranhada em nosso cotidiano, mas não está. Tenho procurado sugerir esse diálogo entre o urbano e o rural em livros infantis como “Titico achou um anzol”, “Benedito Bacurau – O pássaro que não nasceu de um ovo” e “A casa do meu melhor amigo”, e fico maravilhado com a reação das crianças ao terem a oportunidade de um relacionamento literário com personagens que são préas, carcarás, jaçanãs, corujinhas-de-estrada, casacas-de-couro e tantos outros bichinhos comuns, embora desconhecidos, em nossa região.

A civilidade requer sentimentos de reaproximação entre cultura e natureza. Onde existem árvores, existem pássaros, ninhos, cantos, seres fantásticos e folhas dançando ao vento. Por isso, o verde das copas e as cores das flores servem para aquietar a mente e para dar leveza às edificações, porque a beleza natural é reconfortante. Uma árvore é uma escultura; algumas delas são monumentos. Quem tiver dúvida disto basta olhar para uma mangueira centenária, para a abstração de suas formas e para a sua grandiosidade tranquila.

As praças e os parques, e não os “shopping centers”, são os verdadeiros oásis do mundo urbano. Nas áreas verdes, o calor diminui e o frescor aumenta, sem a necessidade de refrigeração artificial e abafada. As árvores contribuem significativamente para a melhoria do conforto térmico, elevando a umidade relativa do ar e melhorando o sistema de amenização da temperatura da cidade. Além de interferirem na velocidade dos ventos, de interceptarem e absorvem parte da radiação solar e da poluição atmosférica, reduzindo ainda a poluição sonora e visual e oferecendo melhores condições de permeabilidade do solo para que as águas das chuvas reabasteçam o lençol freático.

Em uma cidade quente como a nossa, a vida deveria ser vivida mais intensamente fora dos ambientes fechados. Mas a falta de uma cobertura vegetal mínima contribui para que a cidade adoeça ao relento. A Organização Mundial de Saúde, OMS, dá como mínima uma área verde de doze metros quadrados por habitante e certamente estamos muito longe disso. O adensamento populacional desordenado, o histórico de permissiva ocupação privada de áreas públicas, a impunidade contumaz e a permanente irracionalidade da degradação ambiental debilita a vitalidade de Fortaleza.

A falta de um sentido de cidade permite passivamente os maus-tratos evidentes nas podas inadequadas, que esfrangalham sem dó as copas das árvores. Não precisaria ser tudo de uma vez, mas por zona, daria para fazer valer um projeto de arborização com árvores de copas largas em ruas e avenidas, obrigando as empresas que ainda usam o ultrapassado sistema de posteamento como suporte de fios e cabos de transmissão de energia e sinal de televisão, a trabalhar com tubulações subterrâneas.

A minha expectativa é que o Movimento Pró-Árvore, mais do que reunir pessoas para a ação em favor do verde, possa catalisar iniciativas existentes, de modo a influir na mudança do hábito com o qual nos relacionamos com a cidade. Está mais do que na hora de colocarmos em nossa rotina a troca afetiva com as árvores; afinal elas são seres vivos, que bebem da mesma água que bebemos. A figura da árvore agrega-se facilmente ao sistema de símbolos que dá sustentação às trocas subjetivas, facilitando a distinção entre pólis e aglomerado urbano. Viver bem em Fortaleza passa pelo aumento de sombras na cidade, por espaços verdes de integração comunitária e por impactos estéticos naturais que fortaleçam a consciência ecológica.

http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/caderno-3/coluna/flavio-paiva-1.131/mata-ria-1083483-1.780344

http://www.flaviopaiva.com.br/